A pessoa mais destemida que conheço é um paranaense que não fala muito, de pouco mais de meio metro de altura. Apesar da baixa estatura, não tem medo de nada e pula de cabeça – literalmente – sobre qualquer novidade. Se é derrubado, levanta, chora, sacode a poeira, sente o novo galo na cabeça e segue em frente.
Esta pessoa é meu filho Lorenzo, de dois anos e meio, mas corpinho de um ano e quatro meses. Isto mesmo. Lorenzo não nasceu da barriga de sua mãe, mas do coração de seus pais. E isto só aconteceu quando ele já tinha dois anos, quatro meses e vinte dias. Até então, a vida do pequeno Lolô foi cheia de desafios, percalços e vitórias sobre a morte, o que lhe retardou o crescimento. Nascido em uma família desestruturada em todos os sentidos, Lorenzo perdeu seu irmão gêmeo logo nos primeiros dias de vida. Vítima de falta de cuidados e de más formações congênitas, seu companheiro de uma breve vida sucumbiu. Lolô enfrentava problemas semelhantes. Nasceu com hipoplasia do polegar, ou seja, seu polegar direito é subdesenvolvido e sem movimento. Também possui uma hérnia escrotal que deveria ter sido corrigida nos primeiros meses de vida, mas só será agora. Aos nove meses, teve uma séria pneumonia e passou dias internado. Sua alimentação sempre foi deficiente, a ponto de ter de encarar uma internação por anemia e transfusões de sangue para se recuperar.
Quando o conhecemos, Lolô respirava difícil devido a uma bronquite crônica e evitava correr, provavelmente porque isto lhe dificultava ainda mais a respiração. Além disso, tinha toda a dentição de leite comprometida por cáries, e terá de esperar os dentes permanentes com seu delicioso sorriso banguelinha. Para Lorenzo, desistir era mais fácil. Mas além de destemido, o garotinho era persistente, teimoso mesmo. Não eram internações, transfusões, falta de alimentação, frio, cáries, uma família que não cuidava dele e uma mãozinha deficiente que fariam com que desistisse da vida. E foi graças a isso, e ao cuidado exemplar das instituições públicas de Guarapuava, que Lorenzo sobreviveu. E é difícil saber se ele venceu a morte por ser um grande guerreiro ou se ele se tornou um grande guerreiro para vencê-la, mas o fato é que meu filho é uma daquelas pessoas que não desistem nunca, que lutam, que batalham até o fim. Lorenzo será sempre chamado de persistente quando exitoso e de teimoso quando fracassar – dois adjetivos que praticamente caracterizam a mesma virtude ou defeito.
E, além de guerreiro, como já disse, Lorenzo é destemido. Talvez, depois de ver a morte de perto tantas vezes, ele não tenha porque ter medo de nada, muito menos das paredes e quinas que insistem em atacar sua cabeça. Na primeira vez que pisou na praia, este pequeno aprendiz de carioca estranhou a consistência da areia. Uma semana depois corria em direção às ondas, era derrubado e ria, desafiando o mar. Ainda pouco experiente nas artes praianas, costuma mergulhar na areia e não na água, rolando e sorrindo com a cara à milanesa.
Com o tempo, Lorenzo desenvolverá seus medos, sentimentos essenciais para a sobrevivência e para que eu possa virar avô um dia. Por ora, são seus pais que têm medo por ele, ou ele estaria pulando de bungee jump da Pedra da Gávea, cruzando a baía de Guanabara a nado ou pegando o ônibus sozinho para ver nosso Flamengo jogar. Em breve, a maturidade lhe trará bom senso e alguns temores surgirão. Mas eu espero que não sejam muitos, e que meu pequeno pé-vermelho continue destemido, desafiando a morte e celebrando a vida, sem medo de ser feliz.
Richard Branson já disse que “os bravos podem não viver muito, mas os cautelosos podem não viver nada”. Que o pequeno Lolô mantenha para sempre sua bravura, sem perder jamais a ternura do povo guarapuavano.
Carrenho que linda declaração de amor ao querido Lolô. Eu e Bruno somos testemunhas de algumas dessas quedas espetaculares dele, algumas até engraçadas se não fossem preocupantes. Ele teve sorte em encontrar você e a Carla, e espero que ele mais velho saiba dar valor aos pais que o acolheram de forma tão intensa e incondicional.
E viva o Lorenzo, acabou de ganhar mais um fã!
Que lindo a história dele, não sabia que era assim! Que Deus dê muita saúde a vcs, para que vc e a Carla continuem fazendo o bem por aí, sem limite. 🙂
Rafa.
Lindo texto, e mais ainda o seu protagonista! Tenho acompanhado de longe a história desse menino e me emocionado ao ler tudo que ele já enfrentou em tão pouco tempo de vida…
De fato, o Lorenzo é um verdadeiro guerreiro!
Que ele seja uma bênção na vida de sua família.
De coração, Heloisa Lima
Eu tb tenho um Lorenzo na minha vida, meu neto , de 9 anos e tb o chamamos de Lolô ! ele nem de longe passou em sua vidinha, o que o seu Lolô já passou ! mas eles tem uma coisa em comum, a coragem , a alegria de viver !
Que Deus continue abençoando-o, que seja sempre um vencedor, a batalha pela vida que ele já tem ganho, foi recompensada pela família que ele ganhou, e um pai tão orgulhoso de sua bravura, parabéns ! que os “galos” do pequeno Lolô sejam sempre um estímulo para a vitória ! Deus te abençoe.
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Lolô é maravilhoso, tranquilo e sorridente, uma graça de qualquer ponto de vista!!!!, seus pais Carla e Carlo sao também maravilhosos o que garante uma boa quota de sucesso no seu futuro. Eu também torcerei sempre pelo bravo e destemido Lolô…
Que texto lindo! Que história emocionante e inspiradora!! Parabéns!!!!
Sou a mãe do Lorenzo! Não me canso de ler esse lindo texto q traduz exatamente quem é o meu Lolô!!! Ele está cada dia mais lindo, esperto, levado, forte, fofo, amável eeeeeee, sim, destemido! Vou ter cabelos brancos antes da hora!
Da mamãe orgulhosa,
Carla